Nos últimos dias, tive mais contato com pessoas mais velhas, principalmente mulheres. Acho até que eu busquei isso. Dar um tempo de viajantes, de jovens. Trocar o assunto “De onde você é? Há quanto tempo está viajando? Qual o próximo destino…?”. Eu estava procurando descansar e, acho que inconscientemente, busquei a serenidade e a calma de pessoas mais velhas.
Foram dias em que eu precisava da sensação de casa — não a casa em si, mas as pessoas, esse sentimento de estar à vontade, de ser óbvia para alguém. Estava cansada de me apresentar, contar quem eu sou. Acho que pensei que fosse mais agradável contar com a atenção de pessoas mais velhas.
Acabei fazendo amizade com três mulheres: Graziela e Cristina, duas amigas de 64 anos que estão viajando juntas porque o marido da Graziela desistiu de vir; e Ariela, que fez 51 anos e veio passar o aniversário sozinha nas montanhas.
A dupla de amigas sempre animadas, maquiadas e cheias de acessórios, procurando o que fazer e deslumbradas com jovens que cozinham comidas que tomam tempo, como pão e pizza, e estão sozinhos pelo mundo. Com elas, troquei receitas, falamos de lugares que conhecemos, sobre gerações, dor no joelho e banalidades. Também fomos juntas ao mercado e compramos agulha para costurar crochê em uma loja cuja dona é a argentina mais simpática e amorosa que já conheci.
Ariela é uma mulher que, como ela mesma diz, se despertou aos 40 anos e começou a viver a vida que queria. Passou a se amar e a ter coragem de fazer o que tinha vontade, como largar a academia da qual é dona nas mãos da filha e vir passar o aniversário nas montanhas de Bariloche, saltando de parapente.
Ontem falamos sobre relacionamentos, filhos e essas coisas todas que nos deixam confusas se queremos mesmo ou querem por nós- temas que discuto com bastante frequência com as minhas amigas. Mas acho que foi a primeira vez que ouço esse tipo de opinião de mulheres mais velhas, versões futuras de mim. Ou a primeira vez que eu escuto de verdade, porque concordo.
Quando eu falava que era difícil ter um relacionamento nos dias de hoje, Graziela me disse algo como: “Nenhum homem vai querer uma mulher como você, que é independente e viaja o mundo”. Por mais direta que a frase seja, não foi um ataque ao meu estilo de vida, e sim aos homens que não conseguem acompanhar ou ter ao seu lado uma mulher tão grande ou até maior que eles.
E, entre muitas conversas sobre se ouvir e sobre as coincidências da vida, Ariela disse para mim e para outra menina que estava na cozinha: “Eu não recomendo a maternidade para vocês. Eu sofro as consequências até hoje dessa decisão”.
Foi diferente ouvir isso de quem está do lado de lá, de quem já viveu o que eu e minhas amigas discutimos no sofá da minha casa. E essa opinião mais crua e diferente, talvez, das mulheres da minha família, que reclamam de ter filhos ou do casamento, mas depois dizem que é uma bênção, para amenizar e para não prejudicarem o crescimento da família.
Me impactou porque são mulheres que eu admiro — e talvez até me veja nelas. Pela coragem, por fazerem o que têm vontade, por “volare” de parapente, como disse Ariela cantando a música dos Gipsy Kings, ou por ouvir um drama do marido e dizerem: “Ok, vou com a minha amiga então, que é até mais legal e animada que você”.
Em um lugar em que eu pensei em fazer um monte de trilhas e viver a vida lá fora, foi dentro de uma cozinha que eu descobri os melhores destinos. Com mulheres que me serviram os mais agridoces conselhos enquanto comiam meu bolo de fubá com café e mate bien caliente.
A música que eu mencionei pra quem quiser ouvir e entrar no clima:
me encanta esta canción ❤️
Inveja dessas mulheres que comeram o seu bolo de fubá! Hahaha amiga, que delícia de relato… continue! Te amo ❤️